Quando usamos o Torniquete alto e apertado?

QUANDO USAMOS O TORNIQUETE ALTO E APERTADO?

Há muita discussão se torniquetes são colocados “alto e apertados” nas extremidades ou colocados 4-6 cm acima do ferimento, mesmo que seja no antebraço ou abaixo do joelho, as vezes chamados de “double bone compartment” (compartimento de osso duplo). Há também os que defendem que o torniquete deve ficar por 1 hora ou, mais de 8 horas, então qual é o correto?

A resposta curta é que depende do ferimento, quem você é, e onde você está.

Quando colocamos “alto e apertado”?

Alto e apertado é um “coringa” para a maioria das situações e para profissionais que não são treinados na área. É fácil de lembrar e dificilmente será colocado em uma junta, que faria com que o torniquete fosse ineficaz. O alto e apertado também é usado em ferimentos por explosão, onde a extensão da lesão pode ser mais profunda do que se aparenta, e quanto se coloca o torniquete por cima de roupas na fase de “Cuidados Sob Fogo” onde a localização do sangramento pode não ser aparente,

Para aqueles que se encontram há 1-2 de um hospital, o alto e apertado pode ser usado. Vamos discutir outras opções para quem está mais longe.

Podemos colocar o torniquete em um “compartimento de osso duplo” como o antebraço? 

Primeiramente, a presunção que um torniquete não irá ser eficaz em um ” compartimento de osso duplo” é um mito. De alguma forma se espalhou que um TQ não funcionará no antebraço ou abaixo do joelho porque as artérias “se escondem entre os ossos.” Na verdade, torniquetes funcionam MELHOR nestas extremidades pois circunferência menor é mais facilmente comprimida. Para colocar isso em perspectiva, um homem com pernas grossas pode precisar de dois torniquetes, pois há uma razão maior de circunferência para o torniquete. Com esta mesma lógica, e estudos comprovados, se o pulso esta esguichando sangue arterial, você pode colocar o TQ 4-6 cm acima do ferimento, não há necessidade de colocá-lo mais acima no braço.

Porque colocar um torniquete de 4-6 cm acima do ferimento quando se pode colocá-lo alto e apertado?

Se você está há 1 hora de um hospital, isso não será um fator muito preocupante. Se sua situação tática exigir que fique com esse paciente por mais que 1-2 horas, especialmente por 8-12+ horas, colocar o TQ 4-6 cm acima do ferimento deve ser feito. Além do tempo que ficará com o seu paciente, o seu transporte para uma unidade de saúde também pode ser demorado, depois, no hospital, enfermeiros e médicos podem não ter muito conhecimento sobre torniquetes, logo não checam por Síndrome de Compartimento, condição que leva a perda da extremidade, a amputação.

Mas os torniquetes não podem ficar +8 horas antes que o dano permanente aconteça? 

Sim, se for colocado corretamente.

Quando um torniquete é aplicado corretamente, pode ficar por 6-8 horas sem o paciente correr riscos de perder a extremidade. Isso significa que ele para o fluxo ARTERIAL e VENOSO.

Mas se um torniquete estiver frouxo, ele para veias e não artérias.

Artérias levam sangue as extremidades, veias levam sangue de volta ao coração.

Logo, um torniquete frouxo pode deixar sangue entrar, mas impede o sangue de sair. Assim o sangue se mantem na perna e continua chegando. Esta é uma receita perfeita para um desastre chamado Síndrome de Compartimento. Imagine uma rodovia onde carros podem entrar, mas não sair. Isso é muito perigoso para qualquer paciente.

Recapitulando, torniquetes aplicados corretamente podem ser mantidos por 6-8+ horas. Torniquetes frouxos são muito piores, logo, treine bastante a colocação e a avaliação do TQ, para verificar se o sangramento está controlado e que não há pulsação naquela perna ou braço.

Por isso que algumas pessoas dizem que torniquetes só são seguros por 1-2 horas, pois mesmo que a aplicação não seja correta, pelo menos vai diminuir o sangramento ao invés de cessá-lo. Não deixe isso te intimidar no uso do TQ, eles salvam vidas.

Fonte: Blog Marcelo Bini - Instrutor do CTTE -  https://medicinadecombate.wordpress.com

Marcelo Bini é Médico Combatente no Exército dos Estados Unidos e Policial e no Estado do Texas. Serviu no Hospital de Apoio ao Combate do Exército dos Estados Unidos, há poucos km da fronteira entre as Coreias do Sul e do Norte, onde permaneceu por 3 anos. Marcelo também atuou pela 32a Brigada Médica e a 1a Brigada de Strykers. Tem formação de paramédico pelo Centro Médico de Exército dos Estados Unidos e é instrutor de Atendimento Pré-Hospitalar Tático. Na área civil, Marcelo é instrutor de ACLS ( Suporte Avançado de Vida em Cardiologia e PALS (Reanimação Pediátrica) pela American Heart Association (AHA).



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